08/08/2025 às 10:02

Enfretamento nas Américas: Norte (EUA) X Sul (Brasil)

Momento Econômico
Por Nicola Tingas | Consultor Econômico

Tarifas Trump de 50% – entre Negócios e Geopolítica

Desde a posse do presidente Donald Trump no início de 2025 o ambiente internacional está em ampla disputa geopolítica, onde a “lógica econômica e financeira” concorre com atos e ações pela supremacia de poder. Esse cenário gera importante incerteza no curto prazo, afetando empresas, setores, indivíduos, afetando as diferentes nações mais expostas nas negociações globais.

No comércio entre os EUA e os países do mundo, o tema central tem sido as imposições de Trump e posteriores negociações sobre tarifas de importação americana de cada parceiro comercial.

No caso do Brasil, segundo dados do MIDC, as exportações BR-EUA são 12,1% do total e 2% do PIB brasileiro. O Brasil exporta petróleo, café, suco de laranja, carne, produtos siderúrgicos, aviões entre outros (vide tabela). E importa dos EUA insumos como petróleo orgânico, peças para aviação, insumos químicos, farmacêuticos, fertilizantes entre outros. Ao longo de muitos anos o saldo tem sido superavitário a favor dos EUA. Mesmo assim, o Brasil tem sido alvo de tarifas americanas.

Gráfico de produtos exportados pelos EUA; petróleo cru, aço e café não torrado estão entre os principais itens.

As tarifas devem impactar empresas de siderurgia, aeronáutica e indústria automotiva. Essas grandes empresas têm último capital, fluxo de caixa mais robusto e melhor pontuação de crédito para obter recursos para bancar lacunas financeiras de descasamento entre vendas, estoques e passivo financeiro. Portanto, tem capacidade e estrutura empresarial capaz de buscar soluções no curto para o médio prazo.

Contudo, as empresas de menor porte e os produtos mais concentrados na exportação para os EUA e/ou produtos agropecuários perecíveis tendem a sofrer impacto imediato pelo preço de venda adicional da tarifa ou pela desistência de compra e cancelamento de contratos. Com reflexos negativos para fornecedores locais e mão de obra de produção.

No dia 30 de julho o Governo Trump formalizou uma imposição de 40% adicional sobre os 10% já existentes (total 50%) de tarifas nas exportações do Brasil para EUA. Deu prazo de 7 dias para efetivação da medida em 08/06/2025. Esse prazo permite a chegada nos EUA de produtos já embarcados antes da nova tarifa.

No mesmo dia uma ordem executiva de Trump indicou 694 propostas tarifárias de cerca de 4 mil itens exportados para os EUA, trazendo ruptura para vários setores e produtos brasileiros como aeronaves civis e peças, suco de laranja, ferro-gusa, metais preciosos e petróleo. Nos cálculos da AMCHAM a lista de propostas representa 43,4% das exportações brasileiras aos EUA em 2024.

Na prática, as abordagens favorecem a importação pelos EUA de itens de interesse na produção industrial, insumos, suprimentos e alimentos de consumo, evitando alta dos preços.

Entre os itens que não foram listados nas abordagens estão carne, café e pescado cujas exportações para os EUA foram expressivas e risco significativo de perda comercial e/ou financeira. Haverá possibilidade de negociação para inclusão desses produtos nas propostas, se beneficiários EUA.

Gráfico mostra a participação dos EUA nas exportações brasileiras de café, carne e pescado entre 2015 e 2025.

No caso de comércio global afetado, pode haver possibilidade de mitigar perdas na medida em que acordos progridem, e as empresas buscam alternativas de diversificação e mitigação de riscos.

Para o Brasil, em termos de comércio exterior, as tarifas têm impacto comercial menor que outras nações por serem economias mais fechadas. Uma vantagem momentânea, mas, desvantagem estrutural.

Estratégia de negociação “estilo Trump”: elevar a pressão e a polarização para extrair vantagens.

Na manhã do mesmo dia 30/07/2025, o ministro Alexandre de Moraes (STF) recebeu a avaliação americana com utilização da Lei Magnitsky, legislação que permite a imposição de sanções financeiras a estrangeiros que envolvem interferência visível aos direitos humanos. Esse foi um ato de apoio político explícito de Trump ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que está em processo judicial no STF. Mais análises a outros membros do STF e talvez a membros do governo foram sinalizadas.

Parlamentares americanos indicaram que o Congresso dos EUA deve aprovar uma lei que vai criar avaliações automáticas para todos os países que negociam com a Rússia. No caso brasileiro, o governo americano está preocupado com a compra de fertilizantes e óleo russo. O Governo Trump diz que quer mitigar as receitas russas que financiam a guerra na Ucrânia. O setor agropecuário brasileiro tem recebido essa lei pois necessita dos fertilizantes. A estimativa é de que essa lei avance em 90 dias.

Para analistas especializados, além dos interesses comerciais (Negócios), Trump tem interesses geopolíticos na América do Sul (Poder). Quer reduzir a influência de poder dos “governos de esquerda” e também da China na região. São referências alguns alvos dessa abordagem:

  • Temas políticos (proteger Bolsonaro e influência eleição de 2026);
  • Defensores de interesses comerciais, tecnológicos, regulatórios e disputas judiciais (STF) em questões das big techs operando no Brasil;
  • Antepor-se uma crescente presença, influência comercial e estratégica da China no Brasil e na América do Sul; de formar a favorecer o domínio geopolítico americano na região em consonância com a disputa de poder global;
  • Alcançar influência e materialidade na obtenção de insumos estratégicos, energia e meio ambiente;
  • Direcionar o comércio bilateral para uma pauta de conteúdo de interesse americano, e estimular o retorno da produção e do investimento para os EUA

Essa ampla agenda serve como instrumento de coerção política e barganha comercial. A amplitude da agenda ainda traz muitos debates com o Brasil, e ainda com outros países, como a China.

A ocorrência nos mercados financeiros e o preço dos ativos,  apesar da “guerra tarifária” e do “confronto político ideológico” e da precificação nos mercados, indicam que no curto prazo a tendência é de absorção das incertezas e busca de horizontes e oportunidades.

Nas próximas semanas será possível avaliar com maior consistência a extensão dos efeitos das medidas tarifárias para a atividade econômica, comércio externo, empresas e emprego.

Tabela mostra variações de Selic, ouro, dólar e bolsas entre 2023 e julho de 2025, destacando desempenho por semestre e mês.
A economia brasileira passa por um processo de desaceleração gradual após ter registrado um crescimento de 3,4% em 2024. Contudo, segue apresentando resiliência sustentada por uma combinação de fatores estruturais e políticas públicas ativas.

A atividade econômica deve seguir moderadamente aquecida até as eleições de 2026, sustentada pelo emprego forte, expansão do crédito, aumento da renda real, investimentos públicos e proteção social, elementos centrais da estratégia econômica do governo Lula.

 

 

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