07/03/2024 às 15:36

Desvendando o Vale do Silício: Nossa breve jornada pela terra da inovação

Na Omni
Por Omni

Em uma jornada muito especial pelo Vale do Silício, conduzida pela StartSe em fevereiro deste ano, nós três fomos imersos em um turbilhão de ideias, pessoas e cultura que definem o epicentro global da inovação. Este é um lugar onde os sonhos se tornam realidade, onde as mentes mais brilhantes se reúnem para moldar o futuro da tecnologia e da humanidade. A seguir, iremos compartilhar detalhes da experiência inspiradora que tivemos.

A história do Vale:

A história do Vale do Silício se inicia com a corrida do ouro na Califórnia. No século XIX, a descoberta de ouro atraiu aventureiros de todo o mundo para a região, criando uma cultura de empreendedorismo e busca por oportunidades.

Com o tempo, o ouro foi substituído por algo ainda mais valioso: ideias. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Vale do Silício emergiu como um centro de pesquisa e desenvolvimento para a indústria de defesa dos Estados Unidos. Empresas como Hewlett-Packard e Fairchild Semiconductor pavimentaram o caminho para a revolução tecnológica que viria a seguir.

Na década de 1970, a fundação da Intel e a ascensão da era dos computadores pessoais deram início a uma nova era de inovação. O surgimento de empresas como Apple, Microsoft e Cisco consolidou o Vale do Silício como o berço da revolução digital.

O que realmente define o Vale do Silício:

A essência do Vale do Silício vai muito além de sua geografia. E está ligada ao mindset de inovação e disrupção que permeia o aspecto da vida e do trabalho neste lugar.

A nossa interação com Wikings Machado, brasileiro que mora nos EUA, fundador de uma venture capital atuante no Vale do Silício, e com Michelle Messina, Business Strategy Coach, uma “mentora” para empreendedores e coautora do livro “Decoding Silicon Valley: Attitudes, Beliefs and Culture, convergiram para três pilares fundamentais que sustentam esse ecossistema: capital disponível, um desejo inabalável de empreender e pessoas!

Vamos entender melhor cada um desses pilares a seguir.

  1. Capital Disponível:

O Vale do Silício é um verdadeiro paraíso para empreendedores em busca de financiamento, mais de 25% dos investimentos realizados no mundo acontecem por lá!

Para ter um comparativo, se o Vale do Silício fosse um estado, seria o mais rico dos EUA, em 1 quarteirão do Vale tem mais dinheiro para investimento do que no Brasil inteiro! O Vale tem uma concentração incomparável de venture capitals e aceleradoras, o que o tornou um ponto de partida para inúmeras startups inovadoras. O acesso a capital é essencial para alimentar a chama da inovação e transformar ideias ousadas em realidade tangível.

Tivemos a oportunidade de visitar a Plug And Play uma das maiores aceleradoras do mundo! Responsável por “assinar o primeiro cheque” de empresas como Google, PayPal, Dropbox e Rappi! Ela conecta empreendedores, investidores, grandes empresas já consolidadas e Universidades, ou seja, propicia uma interação de muita qualidade, o que facilita demais o desenvolvimento das startups!

Todos os anos centenas de startups são aceleradas no Vale, que é conhecido como “motor de startups”. Atualmente, são cerca de 20 mil ativas e mapeadas por lá.

  1. Desejo inabalável de empreender

A coragem é o pilar sobre o qual o Vale do Silício foi construído. Os empreendedores abraçam o risco, testando ideias ousadas e perseguindo as oportunidades.

Este é o DNA do Vale, empreender não é apenas uma atividade, é uma mentalidade, uma forma de vida. O mindset é de fazer acontecer, e aqui trazemos um paralelo feito por Juliano Murlick, brasileiro e empreendedor no Vale do Silício, “no Brasil discutimos demais o como fazer, aqui se coloca a mão na massa, testa, pivota, se começa e vai aprimorando!”.

Uma das características mais marcantes é sua tolerância ao fracasso. No Vale, falhar não é visto como um obstáculo, mas sim como um degrau no caminho para o sucesso. Cerca de 90% das empresas “morrem” pelo caminho, a maioria dos empreendedores já tiveram envolvidos em empresas que não deram certo, o que não é visto como demérito, mas sim como experiência.

A busca pela próxima grande oportunidade é uma obsessão compartilhada. Uma das razões pelas quais o Vale do Silício continua sendo um epicentro de inovação é seu ciclo contínuo de renovação e reinvenção. As ideias estão sempre evoluindo, se adaptando às mudanças do mercado e da tecnologia.

É importante destacar que esse mindset não está presente apenas em startups, mas também nas big techs, faz parte da cultura desses lugares a busca constante pelo próximo passo! São elas as maiores adquirentes das startups nascidas no Vale.

  1. Pessoas

Nosso tópico de destaque! Afinal, nós acreditamos que independentemente do avanço da tecnologia, são as pessoas que fazem tudo acontecer e pudemos comprovar isso no Vale!

São as pessoas que impulsionam verdadeiramente a inovação e o progresso, por meio de suas capacidades técnicas e das relações:

Especialização, autenticidade e interesse pelo novo:

Uma característica marcante das empresas do Vale do Silício é a busca por profissionais altamente especializados, autênticos e que tenham interesse por aquilo que não vai concorrer com o que o mercado já pratica. Em um ambiente onde a competição é intensa e a demanda por talentos é alta, as empresas valorizam indivíduos que se destacam em suas habilidades e são genuínos em sua abordagem.

As big techs realizam processos de seleção muito detalhados. O recrutamento e seleção é o subsistema de pessoas mais valorizado no Vale, com o propósito de contratar certo! Ou seja, um profissional muito capacitado, especialista e que respire a cultura da empresa, que obviamente reflete a cultura do Vale do Silício! E para atrair esse perfil, elas apostam em salários muito acima do mercado e benefícios muito atrativos. Para queles que estão empreendendo, o cenário é um pouco diferente, muitos iniciam com poucos recursos, mas o jogo muda quando encontram um investidor!

Um dos principais skills do Vale? Saber lidar com dados! Porque essa é a base para a tomada de qualquer decisão, um dos valores do Google explicita isso: “dados e não opiniões” no Uber também: “só acreditamos em dados!” Lifelong learning por lá é natural, pois eles ditam as tendências. E em algumas empresas você terá contribuições para isso, com incentivos diversos como no Google e um onboarding de três semanas, como na Uber. Já na Netflix, a responsabilidade do profissional, pois já contrataram o melhor do mercado para a função.

Cultura de colaboração e mentoria:

No Vale do Silício, a cultura de colaboração e mentoria é uma parte essencial do ecossistema. As pessoas estão sempre dispostas a compartilhar seus conhecimentos e experiências, ajudando a fomentar um ambiente de aprendizado contínuo.

Empresas e profissionais frequentemente trabalham em conjunto em projetos e iniciativas, combinando suas habilidades e recursos para alcançar objetivos comuns. Essa abordagem colaborativa não apenas promove a inovação, mas também cria um senso de comunidade e camaradagem entre os membros do ecossistema.

O compartilhamento de recursos e conhecimentos é visto como uma prática comum e benéfica para todas as partes envolvidas. Startups compartilham espaço de escritório, equipamentos e até mesmo funcionários para reduzir custos e maximizar a eficiência, vimos isto de perto na Circuit Launch, um espaço de trabalho colaborativo de hardware e robótica, fundado pelo brasileiro Alex Dantas.

Além disso, eventos de networking, palestras e workshops são realizados regularmente para permitir que profissionais compartilhem suas experiências e insights, uns com os outros.

No Vale do Silício, a mentoria é uma parte essencial da cultura empresarial. Empreendedores experientes estão sempre dispostos a compartilhar seus conhecimentos e experiências com os iniciantes, ajudando-os a evitar armadilhas comuns e a acelerar seu crescimento profissional.

Autonomia e responsabilidade:

Uma característica distintiva das empresas do Vale do Silício é a ênfase na autonomia e na responsabilidade individual. Este foi um ponto convergente entre culturas de empresas como Google, Uber e Netflix.

No Vale, os profissionais são incentivados a assumir a liderança em seus projetos e a tomar decisões de forma independente. Existe uma cultura de confiança e empoderamento, em que os funcionários se sintam capacitados a assumir riscos e inovar.

Diversidade e inclusão:

A diversidade acontece naturalmente em várias esferas, afinal, estamos falando de uma população composta de 38% de imigrantes! Existe um trabalho ativo para criar ambientes mais inclusivos e representativos, com o reconhecimento de que a diversidade de pensamento e experiência é fundamental para impulsionar a inovação e a criatividade.

Entretanto, a diversidade social é um ponto. Vale ressaltar que as pessoas que estão no Vale do Silício, frequentando os espaços que citamos até aqui, são majoritariamente de um recorte financeiramente privilegiado.

Saúde mental:

Diante de tudo que é vivido no Vale do Silício, dá para perceber que a pressão e a cobrança acontecem com muita força, por isso, o Vale também é conhecido por altas taxas de bornout, suicídio e vício. Percebemos que infelizmente, há poucos espaços para a discussão desses temas. Estar no Vale, por enquanto, é assumir essa realidade em que alguns se adaptam ao ritmo frenético das coisas e outros não.

Liderança:

O estilo de liderança do Vale do Silício reflete o que citamos até aqui, ou seja, uma liderança dinâmica com foco em empoderar e capacitar suas equipes para alcançar novos patamares de inovação e excelência. Na linha da evolução dessa liderança, muito influenciada pelas mudanças no mundo do trabalho impulsionadas pela pandemia, conhecemos o “líder orquestrador” apresentado por Bob Wollheim.

Bob é brasileiro, reside em Los Angeles, e atualmente é responsável por EVP of Growth & People na CI&T. Ele está divulgando o seu novo livro nos EUA que conversa muito com o que trabalhamos em liderança aqui na Omni: “O amanhecer de um novo líder: o orquestrador”.

O livro aborda a transformação do “líder inspirador” para o “líder orquestrador ou maestro”. Ele apresenta sete dives que trazem a essência do líder orquestrador: mais nós do que eu, líder como ferramenta de apoio para destravar o propósito e potencial das pessoas e que coreografa muito mais do que dirige as coisas!

Inteligência artificial:

Não temos como finalizar este artigo sem falar no assunto do momento, a inteligência artificial!

No Vale do Silício, a inteligência artificial (IA) está na vanguarda da inovação, impulsionando mudanças sísmicas em uma ampla gama de indústrias e setores. Kartik Gada, professor da Universidade de Stanford, nos trouxe uma visão promissora de futuro com a IA. Ele destaca os seguintes ganhos:

Melhorias nos modelos de negócios:

Empresas estão aproveitando o poder da IA para automatizar processos, otimizar operações e oferecer experiências personalizadas aos clientes. Por exemplo, empresas de tecnologia como Google, Facebook e Amazon estão utilizando algoritmos de IA para fornecer recomendações de produtos, personalizar feeds de notícias e aprimorar os resultados de busca.

Impulso na inovação em setores-chave:

A IA está impulsionando a inovação em uma ampla gama de setores, incluindo saúde, finanças, transporte e manufatura. No setor da saúde, por exemplo, a IA está sendo usada para diagnosticar doenças, personalizar tratamentos e melhorar os resultados dos pacientes. No setor financeiro, a IA está sendo usada para detectar fraudes, automatizar processos de negociação e prever tendências de mercado. Em cada setor, a IA está oferecendo oportunidades sem precedentes para impulsionar a eficiência, a produtividade e o crescimento.

Karkit Gada acredita que vamos nos adaptar a essa nova realidade, assim como em outros momentos da história, como por exemplo a migração da manufatura para processos automatizados. Ele enfatiza que podemos aprender e tirar o melhor da inteligência artificial: “usar a IA irá ajudar a sair da média! Saber escrever bem, fazer uma apresentação ou cálculos em alguns lugares já são coisas do passado, a habilidade do agora é saber usar a IA a seu favor!”.

Também conhecemos a opinião de Alex Dantas, já citado anteriormente, sobre o tema. A visão de Alex nos ascende um alerta sobre algumas questões importantes. Apesar dos benefícios potenciais, a IA também apresenta desafios significativos, considerações éticas e preocupações sobre privacidade de dados, viés algorítmico e automação de empregos. Para Alex, entre 10 e 15 anos, estaremos vivendo um momento muito difícil da nossa existência, um conflito diante de todos os avanços trazidos pela tecnologia.

Conclusão:

A nossa jornada pelo Vale do Silício foi mais do que uma experiência educativa, também foi uma jornada pessoal de autodescoberta e inspiração. Testemunhar o poder da colaboração, da resiliência e da paixão reafirma a nossa crença no potencial humano de transformar o mundo! Porque, no final do dia, são as pessoas – com suas ambições, criatividade e relações – que verdadeiramente impulsionam o progresso e transformam sonhos em realidade.

Autores: André Coelho, gerente sênior de recursos humanos, Camila Hervatin, coordenadora Omni Universidade e Suellen Carvalho, coordenadora de R&S, engajamento e cultura, desempenho e carreira e diversidade.

 

 

 

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